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O 25 de Abril de 1974 marca um momento emblemático na história de Portugal, sendo o ponto de viragem que conduziu à queda do regime ditatorial do Estado Novo e à instauração da democracia no país. Este evento não só teve um impacto político significativo, mas também moldou profundamente a sociedade portuguesa em várias áreas, incluindo a economia e o mercado imobiliário.
Uma das dimensões mais visíveis das mudanças sociais ocorridas após a Revolução dos Cravos foi a evolução dos custos de arrendamento nas principais cidades portuguesas ao longo das décadas. Comparar os preços de arrendamento em 1974 com os de 2024 oferece uma perspectiva interessante sobre as transformações económicas e sociais que ocorreram em Portugal ao longo desse período.
Em 1974, Portugal vivia sob um regime autoritário, o que influenciava diretamente a dinâmica do mercado imobiliário. O acesso à habitação era limitado e controlado pelo Estado, com uma oferta restrita e preços relativamente baixos. Nas principais cidades do país, como Lisboa, Porto e Coimbra, os custos de arrendamento eram substancialmente mais baixos do que os observados hoje.
Por exemplo, em Lisboa, a capital portuguesa, o custo médio de arrendamento de um apartamento de dois quartos em 1974 poderia ser até 75% mais baixo do que o valor equivalente em 2024, ajustado à inflação. O mesmo padrão era observado em outras cidades importantes, como Porto e Coimbra, onde os preços de arrendamento também eram significativamente mais acessíveis em comparação com os níveis atuais.
No entanto, a Revolução dos Cravos trouxe consigo mudanças estruturais profundas na sociedade portuguesa, incluindo reformas económicas e sociais que afetaram diretamente o mercado imobiliário. A transição para a democracia trouxe um aumento na procura por habitação, à medida que as liberdades individuais e a mobilidade social aumentavam. Além disso, as políticas de habitação implementadas após a revolução visavam promover o acesso à habitação para uma parcela maior da população, o que contribuiu para um aumento gradual dos preços de arrendamento ao longo dos anos.
Ao longo das décadas seguintes, Portugal passou por uma série de transformações económicas, incluindo a integração na União Europeia, que trouxe consigo investimentos estrangeiros e um aumento da atividade económica. Isso também teve um impacto significativo no mercado imobiliário, com um aumento da especulação e investimento estrangeiro no setor imobiliário português.
Em 2024, as principais cidades portuguesas enfrentam desafios significativos no que diz respeito ao custo de vida, incluindo os custos de arrendamento. O aumento dos preços da habitação e a gentrificação em algumas áreas urbanas têm levado a preocupações sobre a acessibilidade e a segregação socioeconómica. Apesar dos esforços para promover a habitação acessível e implementar políticas de controlo de rendas, os custos de arrendamento continuam a ser uma preocupação para muitos portugueses, especialmente nas áreas metropolitanas.
Uma das primeiras medidas saídas da revolução foi fixar o salário mínimo em 3 300 escudos 16,5€. Arrendar um T2 “às portas” de Lisboa custava cerca de mil escudos, 5€ e por uma café ao balcão pagava-se dois escudos, 1 cêntimo.
Em conclusão, a comparação dos custos de arrendamento em Portugal em 1974 com os de 2024 revela não apenas uma mudança nos preços, mas também um reflexo das transformações sociais, económicas e políticas que o país experimentou ao longo das últimas décadas. Enquanto os preços de arrendamento aumentaram significativamente, refletindo uma maior procura e dinâmicas económicas complexas, a acessibilidade à habitação continua a ser uma questão premente na sociedade portuguesa contemporânea.